quinta-feira, 17 de março de 2011

Carnaval

     Quando eu era pequena minha mãe melecou os cabelos com maisena enrolando-os num coque, vestiu-se com um vestido longo de chita, óculos redondos, bengala e coluna curvada, transformou-se na vovó perfeita pra contar a história do carnaval para as crianças do colégio, assisti à sua encenação e enquanto ela dizia que antigamente as pessoas gostavam de ir para as janelas de suas casas jogar água nos passantes, espichava água nas crianças que se esquivavam e sorriam.
     Cresci com essa imagem do carnaval. Crianças correndo de alguma senhora enraivecida, casais de namorados fantasiados de Romeu e Julieta, ruas às gargalhadas. Essa era a imagem que eu tinha até ter idade suficiente pra perceber que as coisas mudaram.
     Aos poucos percebi que o carnaval tornou-se a mais perfeita banalização do sexo. Aumenta as vendas de camisinhas e as propagandas de prevenção passam a toda hora, como se gritassem: " É carnaval" Dê, dê muito, mas não se esqueça da camisinha." O que nem sempre é lembrado pelos consumidores frenéticos do álcool. E lá se vai todo um projeto de vida.
     Sem falar que hoje o carnaval evidencia o "novo apartheid" separando os que podem pagar por um lugar agradável pra ver o show e aqueles que se espremem em suas barracas pra vender sanduíche. Então eu fico a imaginar como deveria ser feliz nos tempos de minha mãe, quando todos eram iguais perante a alegria.
     Pessoas morrem no carnaval!! Se você não prestou atenção nos números foi porque os noticiários também não deram o seu devido valor, camuflando-os com notícias mais "interessantes".
     Finalmente o carnaval acaba. Dura pouco e o resultado é cansaço e ressaca no dia seguinte, muitas vezes a dor de cabeça se prolonga por nove meses ou por anos, outras vezes é sentida atrás das grades, no hospital e no pior dos casos, no cemitério...
     Mas, afinal, era ou não era carnaval?
Camilla N.
 

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