Em 10 de dezembro de 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos era adotada pela ONU, fazendo com que todos os cidadãos se tornassem iguais perante a lei. A partir de então todos teriam direito a vida e nasceriam livres. Direitos e deveres que nos encaminhavam rumo à paz mundial.
Sessenta e três anos se passaram e o cheiro de guerra e de sangue continua no ar. A utopia da paz mundial continua uma utopia, às vezes ainda mais distante do que era no século XX.
Pessoas ainda são discriminadas pela raça, sexo e religião que têm, a escravidão ainda existe, pessoas lutam por terras onde possam viver dignamente e continuamos a trancar nossas portas com cadeados e a colocar grades nas janelas.
Não era pra ser diferente? De acordo com os trinta artigos que constam na Declaração não podemos ser discriminados, não podemos ser escravizados ou torturados, temos direito à propriedade, temos o direito de andar sem medo nas ruas, de dormir tranqüilos em casa. Somos livres, temos liberdade de pensamento e expressão. Mas ninguém levanta a voz, preferem deixar a declaração empoeirar-se na estante.
Anos mais tarde, no dia 13 de julho de 1990 foi criado o estatuto da criança e do adolescente, que hoje tem o mesmo fim. O abandono numa estante enferrujada. Deve ser por isso que inúmeros casos de pedofilia e maus tratos às crianças são relatados todos os dias nos jornais.
As crianças e os adolescentes são o futuro da humanidade, a única esperança, a geração em formação. Só parece meio paradoxo dizer tudo isso quando a própria humanidade enche-os de traumas e medos, assim eles não podem escrever um novo fim pra a humanidade sendo que não conseguem nem recomeçar suas histórias.
De nada valeu o trabalho das pessoas que tão sonhadoramente redigiram a Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Estatuto da Criança e do Adolescente? Talvez algumas pessoas festejaram nesses anos, pode ser que tenham gritado que eram livres, finalmente. E depois? A memória humana é curta, as pessoas se esquecem até do lugar que colocaram os óculos, ficam atordoados procurando onde eles podem estar e quando levam as mãos à cabeça lá estão eles, em cima de seus narizes empinados. Não conseguem enxergar o que está diante dos seus olhos. Pra que iriam se importar com papéis velhos?
Porém, eles deveriam colocar os óculos e abaixar os narizes, olhar pra os papéis velhos e perceber que ali pode estar a solução pra a guerra no mundo, ou pelo menos a solução para as discussões dentro de casa, ou no seu bairro, ou na cidade, ou no país. Por que não? Somos livres pra sonhar, não somos? Somos livres pra ir contra o senso comum e nadar contra a corrente. Podemos ser diferentes e respeitar uns aos outros, amar mutuamente e fazer desse um mundo melhor.
É clichê, eu sei. Você escuta isso todos os dias, mas por que não coloca em prática? Tire esses artigos da estante, sacuda a poeira deles, sacuda a poeira de você, e seja diferente nesse mundo onde as pessoas parecem fazer questão de serem todas iguais.
Camilla N.