quarta-feira, 25 de maio de 2011

Ciclos

     
     Enquanto não encerramos um capítulo, não podemos partir para o próximo. Por isso é tão importante deixar certas coisas irem embora, soltar, desprender-se. As pessoas precisam entender que ninguém está jogando com cartas marcadas, às vezes ganhamos e às vezes perdemos.
     Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é.
Fernando Pessoa

Sacudindo a poeira


Em 10 de dezembro de 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos era adotada pela ONU, fazendo com que todos os cidadãos se tornassem iguais perante a lei. A partir de então todos teriam direito a vida e nasceriam livres. Direitos e deveres que nos encaminhavam rumo à paz mundial.
         Sessenta e três anos se passaram e o cheiro de guerra e de sangue continua no ar. A utopia da paz mundial continua uma utopia, às vezes ainda mais distante do que era no século XX.
         Pessoas ainda são discriminadas pela raça, sexo e religião que têm, a escravidão ainda existe, pessoas lutam por terras onde possam viver dignamente e continuamos a trancar nossas portas com cadeados e a colocar grades nas janelas.
Não era pra ser diferente? De acordo com os trinta artigos que constam na Declaração não podemos ser discriminados, não podemos ser escravizados ou torturados, temos direito à propriedade, temos o direito de andar sem medo nas ruas, de dormir tranqüilos em casa. Somos livres, temos liberdade de pensamento e expressão. Mas ninguém levanta a voz, preferem deixar a declaração empoeirar-se na estante.
Anos mais tarde, no dia 13 de julho de 1990 foi criado o estatuto da criança e do adolescente, que hoje tem o mesmo fim. O abandono numa estante enferrujada. Deve ser por isso que inúmeros casos de pedofilia e maus tratos às crianças são relatados todos os dias nos jornais.
As crianças e os adolescentes são o futuro da humanidade, a única esperança, a geração em formação. Só parece meio paradoxo dizer tudo isso quando a própria humanidade enche-os de traumas e medos, assim eles não podem escrever um novo fim pra a humanidade sendo que não conseguem nem recomeçar suas histórias.
De nada valeu o trabalho das pessoas que tão sonhadoramente redigiram a Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Estatuto da Criança e do Adolescente? Talvez algumas pessoas festejaram nesses anos, pode ser que tenham gritado que eram livres, finalmente. E depois? A memória humana é curta, as pessoas se esquecem até do lugar que colocaram os óculos, ficam atordoados procurando onde eles podem estar e quando levam as mãos à cabeça lá estão eles, em cima de seus narizes empinados. Não conseguem enxergar o que está diante dos seus olhos. Pra que iriam se importar com papéis velhos?
Porém, eles deveriam colocar os óculos e abaixar os narizes, olhar pra os papéis velhos e perceber que ali pode estar a solução pra a guerra no mundo, ou pelo menos a solução para as discussões dentro de casa, ou no seu bairro, ou na cidade, ou no país. Por que não? Somos livres pra sonhar, não somos? Somos livres pra ir contra o senso comum e nadar contra a corrente. Podemos ser diferentes e respeitar uns aos outros, amar mutuamente e fazer desse um mundo melhor.
É clichê, eu sei. Você escuta isso todos os dias, mas por que não coloca em prática? Tire esses artigos da estante, sacuda a poeira deles, sacuda a poeira de você, e seja diferente nesse mundo onde as pessoas parecem fazer questão de serem todas iguais.
Camilla N.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Querida alma gêmea,
   
  Venho questionando-me sobre a sua existência, já que isso tudo é tão incerto, todos dizem que somos anjos de uma asa só que procuram o anjo com a outra asa que possa nos completar, e que todos temos a metade da nossa laranja, a tampa da nossa panela, etc e tal, mas nem todo mundo encontra-te.
  Porém, não seria muito mais fácil se nós nos apresentássemos logo de uma vez e acabar com essa espera ridícula e esses desvaneios? Você me pouparia de 'paixonites' frustradas, e eu poderia completá-lo. Seríamos felizes para sempre e a felicidade duraria muito mais, já que não perderíamos tempo namorando um ou outro. Seria tudo perfeito.
  Mas, você insiste em se esconder. Diga-me ao menos onde você está. Em que cidade você mora?! Às vezes você me parece tão distante, penso até que mora no Japão, ou em alguma ilha do Pacífico. Tão longe que chega a ser inatingível.
   Embora acredite que um dia nos encontraremos no estacionamento, no hospital, ou na fila do supermercado, não aguento mais viver quebrando e colando o meu coração enquanto você não chega. 
  Lembre-se de me dar um oi quando passar por mim no shopping, de se aproximar de mansinho, podemos virar amigos ou simplesmente ir direto ao ponto e vivermos felizes para sempre. Você poderia até aparecer agora com uma rosa na mão e colar os cacos do meu coraçãozinho...
  Hm, mas isso já é pedir demais!

Com amor,
A tampa da sua panela.

Camilla N.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Bicho-papão versus Amigos

    Um belo dia você se machuca, você cai de moto ou de uma árvore, de algum jeito você se machuca e o dia passa a não ser mais tão belo. A ferida foi feia, você profere "ais" escandalosos e doídos, os olhos ficam um pouco marejados, você agarra sua perna como se aquilo fosse um jeito de camuflar a dor. Durante algum tempo essa é a cena que as pessoas a sua volta verão.
    Seus amigos, vão tentar te acalmar, trarão água pra conter os soluços, te abraçarão, dirão que vai ficar tudo bem e te oferecerão merthiolate e finalmente a ferida vai começar a cicatrizar. Ela vai continuar marcando sua perna, mas não dói como antes e você já conseguirá andar normalmente.
    O problema é que sempre haverá os malvados, os bichos-papões, as bruxas que tocarão na ferida recém- coagulada. Eles pegarão a sua perna sem nenhuma dó, e vagarosamente vão descascando a ferida, arrancam as bordas, e você se segura ao máximo pra não deixar seus olhos transparecerem o quanto dói. E o bicho-papão vai continuar descascando a ferida até chegar ao local onde o coágulo se prende mais firmemente ao músculo, e quando a capinha da sua ferida estiver presa, apenas, a essa fino cordão de pele, que é a parte que mais dói, o malvado vai arrancar com a maior brutalidade, e nesse mesmo momento uma lágrima também se desprenderá do olhar.
    É nessas horas que você vê o bicho-papão que você tanto temia quando criança materializado na sua frente com toda a monstruosidade e agressividade que lhe foram atribuídas. E a ferida volta a latejar,volta a incomodar, e você começa a mancar de novo! 
     Acontece que depois disso, os mesmos amigos que te ajudaram quando você caiu, vão te ajudar mais uma vez, e dirão que vai ficar tudo bem... E ficará mesmo, porque o bicho-papão sempre se esconde debaixo da cama e só poderá causar grandes prejuízos se não tiver o merthiolate dos seus amigos por perto!
Camilla N.