Aquele olhar foi o mais aterrorizante e incrivelmente bonito que já vi em toda a minha pequena existência.
O ambiente em si não era dos mais agradáveis, por assim dizer. Era um quarto de uma UTI, no entanto devo falar que mesmo sendo pequeno, era bem equipado e tinha um banheiro bem bonitinho usado não poucas vezes para deixar correr as lágrimas, e tenho certeza de que algumas famílias gostariam de viver lá (tirando todo o contexto de que era o aposento de um hospital.) Mas nada disso tinha muito valor, levando em conta que havia uma mulher magra, debilitada e com uma tristeza fúnebre no olhar.
Ao entrar no quarto, todos os pares de olhos que lá adentraram se uniam em uma mesma ação, e a tristeza que exalava deles contribuíam para que o quartinho amistoso e simpático se tornasse débil e feio.
Toda essa união de olhos lacrimejantes devia-se a uma única razão, um único sentido, uma única pessoa. Ela estava naquele momento deitada no centro do quarto com olhos de quem não entende o que se passa, perdidos em algum lugar que era só dela. Estava lá e era só isso.
Foi esse olhar que mais chamou a atenção de quem vos escreve, não era um olhar qualquer, era um olhar paradoxal, que tinha sentimento e sentimento algum, em alguns momentos se perdia e em outros encontrava, era arregalado e tinha um pedido implícito naquela íris: “Tire-me daqui!” foi o que consegui ler.
E ficamos assim, olhando uma nos olhos da outra. Eu não lembro o que fiz enquanto estava dentro deles, nem tampouco o que pensei. Mas, estava lá adentrando os olhos dela enquanto ela adentrava nos meus. E enquanto os olhava esqueci-me da doença que me levou até aquele quarto, pois aqueles olhos, na sua beleza feia, era a única parte do corpo que continuava a mesma, o único lugar que nenhuma cirurgia plástica é capaz de mudar.
O quarto ficou pra trás, e aquela angústia passou, seguimos vivendo e aquele momento tornou-se mais uma relíquia do passado... Os olhos continuam abertos, mas o olhar mais aterrorizante e incrivelmente bonito esse continua vivo na minha memória.
Camilla N.
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